terça-feira, 29 de abril de 2008

tênis sujo
olheiras escuras e fundas
unhas roídas
e esmalte vermelho descascado.
cabelo fora do lugar
saia amassada
e blusa preta cheia de pelinhos brancos.

esse é o retrato de um corpo somatizado pelos vários "foda-se"s que deixou de dizer.

recalque, né?

quinta-feira, 24 de abril de 2008

oh my darling, Clementine

chegar em casa ontem e assistir "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" foi um soco na boca do estômago.
tenho dormido umas 5 ou 6 horas por noite, e perder uma dessas horas preciosas de sono ontem (é, o filme já tava na metade) era necessário pra mergulhar numa poesia aquém de mim. poesia feita de solidão, posto que não existe nada mais solitário que a experiência em si. o sentir tão particular e as memórias sempre tão subjetivas. me irrita quando ouço falarem mal da solidão. acaso existe experiência mais solitária que o amor? a impossibilidade de se fazer entender e a sede insaciável por entender o outro. quantas vezes não fazemos do amor uma casca para nos esconder de nós mesmos?
.
minhas lembranças são inalcançáveis.
não me vejo sem elas, mas, constantemente, penso em deixá-las pra trás.
não me sinto capaz e me apavora a intensidade do vazio que restaria em mim.
.
ontem, fui dormir embriagada de lágrimas.
muitas memórias me percorreram antes que eu apagasse alguns números do meu celular.
se é pra restar apenas o vazio, que reste sem casca.
e ficarei em carne viva.

terça-feira, 22 de abril de 2008

o inferno na terra

eu odeio essa cidade.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

sobre os astros

onde já se viu uma geminiana com fama de sentimentalóide?

a culpa de todo esse romantismo enrustido é do meu ascendente em peixes.
certeza.
te ofereço um afago noite adentro
desses, acompanhados de
silêncios sem constrangimento.

sábado, 19 de abril de 2008

nas nossas entrelinhas
no entre pêlos
entre suores
mãos.

é que foi dia de
afagos não ditos
e confissões
por olhares.

entre
e fique à vontade.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

esvaziar-se até
que sobre apenas
o sentido.
ser o que
não sobra,
o que não há.

esgoto.
nego.

es-vazio de mim mesma.
meu abismo de mim:
o limiar entre
a racionalidade e
o sentimento.

da (falta de ) sintonia

depois de alguns dias de silêncio proposital, ele aparece e se desculpa pelo sumiço causado pelo trabalho em excesso. ela disfarça que nem mesmo tinha notado seu desaparecimento repentino e, com desdém, diz que... "tudo bem". ele se ocupa em pensar que a atitude dela faz parte do jogo que ele inventou, e sem saber, joga sozinho: acha que o desdém é puro charme, um fazer-doce só para conseguir sua atenção.
.
enquanto isso, ela só consegue pensar, com nostalgia e pesar, na época em que, mesmo em dias onde não havia tempo sequer pra respirar, ela (por inteiro) pensava nele (aquele outro), e com afeto, sentia sua falta.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

sexta-acre

o número 2 é um bicho cretino filho da puta mesmo (apesar das putas não terem nada a ver com isso). pelo que sinto quando não avisto uma mesa sequer com apenas uma cadeira. e lá me vem a conta dividida pelo tal número. acaso minha bolsa sobre a cadeira conta como pagante? ou acaso eu, de tão grande, já passo a imagem de duas e ando assim por aí tão desavisada disso? porque o desgraçado perverso do número 2 me persegue nos ônibus e metrô e há sempre o diabo de um lugar vazio ao meu lado, sempre o último a ser ocupado. se bem que isso deve ser por causa da tal imagem de duas que transpareço. não me traga 2 copos, a cerveja é só pra uma. não, não estou esperando ninguém. sim, pode pegar a cadeira sobrante. e acaso a minha solidão te incomode tanto assim e ocupe mais espaço visível que qualquer outro ao meu lado, vá se fuder. (que já estou farta de tantos palpites alheios.)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

dividida em mil,
me perco em pedaços.

e como se pudesse ser uma só,
inteira,
sinto falta da unidade.
ele é o amante
mais fiel da alegria.
jamais a trocaria
pelo charme barato
dos olhos borrados
de lágrimas.

terça-feira, 8 de abril de 2008

fragmentos

"então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és..."
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.
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"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu."
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caio fernando abreu

música na primeira hora do dia

"but in the first moment of her waking up
she knows she's losing it, yeah she's losing it
when the first cup of coffee tastes like washing up
she knows she's losing it, yeah she's losing"

belle & sebastian - she's losing it

domingo, 6 de abril de 2008

corpo e alma
entregues.

é nisso que dá
uma aposta de jogo
de sinuca.
todo o sentido
que há nesses sorrisos
de outrora
de novo, sentidos.

confesso
que vim para me confessar.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

não te ausentas de mim
pois que
se leio tuas nuançes
é porque te vejo.

(para além
do teu olhar
desviando
o meu)
culpa:
a minha maior fuga.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

curtas e lascivas

pois que te digo...

I.
se te engano
com meu discurso
é pra me ter
satisfeita no teu pau.

II.
poros carregados
de necessidade
é só tesão, meu bem
e não afeto.

III.
e o que era uma
boa foda
tornou-se um amontoado
de desejos desarmônicos.

visual e sugestiva

nuca arrepiada
costas curvadas
seios eriçados
coxas escorrendo
pernas inquietas.

meu corpo
trans-borda
lascívia.

terça-feira, 1 de abril de 2008

qual é o tom da tua dor?