quinta-feira, 31 de julho de 2008

across the universe

semana passada, uma companheira feminista de trabalho faleceu num acidente de ônibus numa estrada em Porto Alegre. para além de toda a tristeza que pesou em todxs que a conheciam, restou saudade e lembranças muito boas da companheira gaúcha. decidiu-se fazer então, no lugar da famosa missa de sétimo dia, uma cerimônia de homenagem à margarida que se foi. entre palavras, fotos, músicas, vídeos e memórias perdidas em cada pessoa presente ali, encontraram um e-mail que a querida gaúcha havia mandado, tempos atrás, para todxs nós, companheirxs de trabalho, onde ela dizia mais ou menos assim:

"eu tenho medo de viver pouco.
medo de viver pouco o instante.
cada sorriso, cada dor, as alegrias e tristezas"


e eu só conseguia pensar em como nós somos tão mesquinhxs a ponto de só pensar em certas coisas quando alguém próximo vai embora.

uma margarida se foi e eu deixo uma música e vídeo que eu gosto um tanto:

pools of sorrow, waves of joy
are drifting through my opened mind
possessing and caressing me

terça-feira, 29 de julho de 2008

kunderiana

é possível ser a Teresa de algum Thomas
sendo, essencialmente, Sabina?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

eu te diria todas as palavras que pulsam em mim agora,
de beleza tão doída,

se, ao menos, eu pudesse deixar você me olhar nos olhos
e me beijar a boca, leve e carinhoso,
como quem se despede com nó na garganta.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

ébrios amantes III

preferia quando a pegava com força para confessar desejo e não para levantar a voz com palavras tão ásperas. sabia que só a embriaguez o faria dormir com o corpo tão colado ao dela. aqueles braços envoltos em si eram sufoco e não abrigo: doía até os ossos. pela manhã, não havia nada além da indiferença, o café amargo, a urgência do trago e a tentativa de afago. lover, you should've come over ainda tocava quando algumas palavras vazias foram ditas antes que a porta se fechasse. aumentou o volume, acendeu um cigarro e deixou que a certeza da despedida tomasse conta de si. nenhuma lágrima caiu.

terça-feira, 22 de julho de 2008

ébrios amantes II

tinham desejos contorcidos, palavras ácidas de dores escondidas, doçuras tão mentirosas. eram poros, mãos e línguas orientados pelo torpor de uma vontade que não se pode compreender. eram movimentos bruscos de sutilezas embriagadas. era a urgência de pé, na sua frente, pedindo pra te engolir. era de um calor tão intenso, que o azul das chamas denunciava o gelo que estava por vir. e entre os ruídos do rastejar de lençóis, ouviu-se o gemido do gozo solitário, e a lágrima silenciosa ficou pela penumbra.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

1ª fuga

isso que dá a fuga de todo o abrigo
vagar de cama em cama sempre
resulta nesse momento vazio

guilherme carvalho da silva

quinta-feira, 17 de julho de 2008

ébrios amantes I

tinha esmalte vermelho descascado nas unhas. e gostava de olhar pras próprias mãos enquanto segurava sua taça de vinho branco e o cigarro entre os dedos. sabia que as confissões começariam no primeiro toque de peles, quando os corpos se embriagassem das memórias de meses atrás. e foi na cozinha, enquanto abria a segunda garrafa de vinho que o assunto de outrora se perdeu entre gemidos e respiração, nos olhares de desejo mudo. gostava daquela expressão de gozo e queria o gosto do gozo na boca.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

eu não sei o que eu quero.

mas, pelo menos, eu deixo isso bem claro.
you came upon me like a hypnic jerk
when I was just about settled
e o velho bêbado no ponto de ônibus me pede fogo pra acender o cigarro e diz:

- amolece esse coração, menina. ele tá muito duro.

terça-feira, 8 de julho de 2008

sobre as verdades [nas entrelinhas]

faço convites sem querer, tempestade em copo d'água e confissões à flor da pele. só pergunto teu nome depois de já ter metido a língua na tua boca. leio horóscopo, faço mapa astral. e aos sábados, bato boca com testemunhas de jeová. danço como se não quisesse te seduzir. e com doses de vodka, faço declarações de desejos incontidos por séculos. beijo doce, enfio o joelho entre tuas pernas. esbravejo verdades, e derreto desconhecido por dentro.

caminho, equilibrista, na corda bamba. eu pago pra ver. coloco minhas mágoas sobre a mesa, e escondo todo o resto de mim.

sempre transitória.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

o que mais é preciso para que você leia
as sutilezas das minhas entrelinhas?