quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

marítimas #1

Nunca soube nadar, mas adorava o mar. Tinha uma relação quase exclusivamente contemplativa com tudo que era marítimo. Isso porque se ofendia com o uso exploratório que as pessoas costumavam fazer tão displicentemente do mar. Sabia que seu amor não era menor por isso, embora todos os clássicos exploradores duvidassem do seu encanto pelo mar só porque nunca mergulhava. A verdade é que aquele amor contemplativo não podia ser medido: tinha finitude marítima.

E podia garantir que seu mergulho era mais intenso que qualquer outro.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

#leminskianas

diluir-me no céu
da tua boca
como fosse
torrão de açúcar
adoçar tua língua

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

imaginariamente

Decidi acolher tua sugestão de pensar com os pés. Vou fazer as malas e traçar meu caminho rumo ao teu. Malas não, só uma mochila. Que para caminhar junto, não é preciso muito. Vou levar os versos do Leminski e da Hilda e um romance do Kundera (que é para saciar nossa vontade de filosofia poética). Roupas, só de calor. Porque é verão ainda e, se alguma brisa fria nos surpreender, tua barba nos aquecerá. Para os pés, só chinelos, que é para preservar a liberdade do pensamento. Te encontro na cidade dos três corações, porque fica na metade do caminho pra nós dois, tem corações no nome e cheirinho de café na memória.


Prometo pensar com os pés os nossos caminhos. Mas vou sentir só com as mãos. E instituir o tato a nossa linguagem primária.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

a culpa do azul

o mergulho no sorriso,
as palavras desavergonhadas
de flerte,
a dança de olhares e das ancas.

o encanto das coincidências,
a saliva, com gosto de uva.

tudo refletido
na finitude de um vestido azul.

uma ressaca doce

existe em mim
uma vontade
de explodir
em sorriso
de materializar
teu nome
de viver
histórias inventadas.

mergulhar nessa
urgência de sintonia