segunda-feira, 25 de novembro de 2013

presença

com você por perto, o riso fica fácil, o corpo amolece e as pernas ficam bambas. com você por perto, até o dia nublado parece otimista. e a chuva mais bonita. com você por perto, nem preciso de cafeína. e a nicotina é só um respiro. com você por perto, o passado mal existe e o futuro nem causa preocupação. a perda não existe e nossa sintonia é atemporal. com você por perto, eu perco a hora e a fome. ensurdeço para todo o resto e ouço só sua voz. com você por perto, o brilho dos meus olhos reflete no brilho dos teus. e ilumina tudo ao redor. com você por perto, minha palavra é só afago. e tudo mora nas entrelinhas.

com você por perto, eu diminuo tanto que caibo na palma da sua mão.

ausência

com você por perto, o ar fica denso e respirar sem sufoco é quase impossível. com você por perto, meu café fica mais amargo e até o trago desce mais áspero pela garganta. toda música é chorosa e qualquer palavra impronunciável. com você por perto, minha voz fica miúda e o foco insustentável. o pensamento fica caótico, as mãos inquietas e o estômago revirado. com você por perto, meu corpo é visceral. de nó e carne viva. o gosto acre que não sai da boca.

com você por perto, eu desapareço.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

perda atemporal

primavera de ausência e chuva
as cores floridas não chegaram pra nós duas
e só sobraram a seca e a sede na memória.

o canto das cigarras é ensurdecedor
mas ainda não silencia teu pensamento em mim.
em dias nublados, você faz mais falta que o sol.

perder nosso enlace
é um verdadeiro desastre.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

noites de ruído e lentidão

entrelaçada
no pensamento
noturno
a tua presença
onírica.

visita sob
os lençóis
inunda
cama
quarto
apartamento.

digo teu nome
cristalino
sufoco.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

da pequena falta III

sorriso abreviado na memória
causador de crises de ansiedade
mãos suadas e trêmulas

abstinência insaciável.

esse olhar vago
foragido do meu
revira o estômago

ânsia de vômito.

textura esquecida da pele
cheiros e pintas
revira pensamento, vira pesadelo

insônia.

da boca ou da ponta dos dedos,
nenhuma palavra dita ou escrita.
mas todo o resto
grita.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

silenciosa

escrever cartas de amor
e de desabafo
até estourar
os pulsos
e deixar em carne viva
dedos e unhas

pra compensar
o silêncio
a distância
a falta de tato.

pra remediar
o irremediável.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

crime de amor

Todo seu espaço estava sitiado. Já estava acostumada com sua existência vigiada e mal se lembrava da última vez em que respirou plenamente em paz. Mas dessa vez, era ainda pior: o cerco estava fechado. E a única certeza era que não havia brecha pra fuga ou fresta por onde entrasse o sol. A atmosfera era densa e o ar cada vez mais escasso. Sentia o par de olhos alheios sob seus ombros e tinha um peso indizível.

A meta era localizar qualquer indício de desvio. A estratégia era vigia, investigação e busca. Gavetas, estantes e colchões foram revirados. A palpitação vinha da incerteza de ter se lembrado de cobrir todos os rastros. Pernas trêmulas e mãos frias. Sentia que seu cenário, cuidadosamente montado, estava prestes a desmoronar.

Num caderno esquecido e insuspeito, morava a razão do seu rosto de confronto e culpa: uma carta de amor. A descoberta foi mais devastadora que qualquer prova de ligação terrorista. Promessas foram quebradas. Rancores e dívidas, desenterradas. O que era ácido veio à superfície. Amor, já não havia. Dali em diante, ela já não era mais a mesma. Nunca mais manteve sua escrita em segredo de novo. Estava escancarada.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

dúvida

até quando negar a urgência da pele
vai te parecer uma boa ideia?

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

boas vindas

disse adeus
à racionalidade
e vibrou
inteira
na ponta
dos dedos.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

geográfica

uma vida inteira
de territórios distantes.

da seca
ao mangue.

andava
desavisada do encanto
descrente de novidade.

tudo que tinha
era paisagem de cotidiano.

e apesar dos pés
sempre atentos ao concreto,
nem percebeu
a cratera no caminho.

e como se fosse
Fossa das Marianas
caiu
atordoada.