segunda-feira, 31 de março de 2008

eu quero os males dos amantes.

a ansiedade pulsando nas veias
e o sorriso idiota estampado no rosto.
as mãos dadas,
sempre desproporcionalmente.
os sussurros
e os afagos.

eu quero o desamor,
mas, só depois que o amor vier.
uma vez, uma pessoa me disse que meu jeito de ser lembrava as cantoras que ouço.
algo como meu vício por Fiona Apple, que mistura uma sensualidade com graves quase bravos.
sim, acho que foi um elogio na época.
.
hoje, passei o dia todo baixando (e ouvindo) a discografia da PJ Harvey.
o dia todo mesmo. quase uma overdose.
.
se for o caso, tirem suas conclusões.

sexta-feira, 28 de março de 2008

é como se a cada trago silencioso
minha pele relembrasse seu toque.
e como num truque barato,
fácil,
meu desejo se multiplica.
e meu corpo, dolorido ainda,
clama pelo seu.
urgente.

quinta-feira, 27 de março de 2008

da proporção

depilou pernas e virilhas.
escolheu a saia ideal, leve, fina e com movimento,
e que, sobretudo, permitia movimento.
calcinha e sutiã pretos.
o sapato, fácil de tirar.
Joana tinha conseguido, finalmente, marcar um encontro com o flerte que desejava devorar há semanas. Tomariam umas cervejas e o depois disso ainda estava nas entrelinhas.
Se encontraram, enfim. Algumas conversas retomadas, beijos e carícias. Sem planos para o depois, caminharam para o ponto de ônibus. Joana vê um posto de gasolina e logo pede companhia até o banheiro. Ele, pensando em como as mulheres não seguram nunca a bexiga, não diz nada e a acompanha.
Joana entra no banheiro, olha pra ele e espera algum sinal de sintonia de desejos, mas, nada recebe de volta. Então, ela puxa ele com firmeza para dentro do banheiro e, entre beijos e mordidas, movida por um tesão contido por semanas, estava decidida a trepar ali mesmo, naquele banheiro abandonado e sujo do posto de gasolina.
Joana tira a calcinha e, encostada na pia do banheiro, enlaça seu flerte com as pernas.
Ele pára. E nada faz.
Ela desliza as mãos para dentro de suas calças e sabe que ele brochou.
Joana guarda a calcinha dentro da bolsa e, em silêncio, abre a porta do banheiro, acende um cigarro e caminha, sozinha e sem olhar pra trás, até o ponto de ônibus.
A única coisa que consegue pensar é que nunca deveria investir em homens menores que ela.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Lenina

Lenina costumava ir embora com facilidade. Isso jamais poderia significar que não doía. Pelo contrário, sofria por ir embora, e além da culpa que o ir-se já lhe trazia por si só, sentia o peso de sua escolha sempre tida como tão egoísta.
Lenina desejava, mais do que nunca, aprender a partir de si mesma.

quinta-feira, 13 de março de 2008

recado II


um
pedaço
do
meu
desejo
milimetrado
em
pêlos
e poros
à espera
do
seu
sopro.

derrota de mim

encaro a xícara de café colocada à minha frente.
amargo, forte e quente.
mergulho no negro à espera de que ele esfrie,
na esperança de que desça suave.

à direita, obrigações.
à esquerda, poesia.
no centro, o café.

e me percebo uma pessoa mais insegura
do que quando eu tinha 5 anos de idade.

recado

palavra bonita:
é só o que sustenta
esse flerte imaginado.

eu quero corpo
eu quero tato.

palavra é coisa que evapora
e sopra
desaba em mim
coisa que não existe.

não quero mentira
não quero verdade

eu quero o silêncio escancarado.

quarta-feira, 12 de março de 2008

"sentir-se vivo é necessário, mesmo que seja sentindo dor, pelo menos se sente alguma coisa. eu ando usando muito o metrô esses tempos, acho que tem a ver com meu estado de espírito melancólico. venho quase sempre ouvindo radiohead e me escondendo do sol com meus óculos escuros. misto de beleza e tristeza."

respondendo a mensagem de bom dia dele.
eu: dói doer, mas, às vezes é melhor doer pra se sentir vivo
é melhor doer pq se escreve melhor
pq se sente tudo mais a flor da pele
pq é tudo muito mais real
Eduardo: ah... poetas
lindo e tão verdadeiro
que chega a doer
rsrs...
eu: :)
essa conversa me pede um cigarro
Eduardo: e para mim um café
salvei o que vc disse
não confio na memória
rsrs
eu: como vc não fuma?
hehehe

no Gtalk, com ele de novo.
"o vinho lava o alcatrão, que desce amargo desde que saiu sem me pedir licença."

por ele.

quinta-feira, 6 de março de 2008

o último gemido

eu quero o beijo molhado
no meu seio nu
quero a barba
arranhando minhas costas
quero o gozo quente
na minha pele arrepiada.

a mordida, a língua
a palavra suja no ouvido.

quero sua magreza
sobre minhas ancas largas.

segunda-feira, 3 de março de 2008

gravidade

o sentimento é grave
como a voz rouca
de quem cospe,
diariamente,
uma fumaça densa
e cinza de dor.

grave

gravidez de mim
já passa da hora
de parir

domingo, 2 de março de 2008

ouvindo sem parar o cd solo da Fernanda Takai,

Onde Brilhem os Olhos Teus.

recomendo Insensatez, sempre no repeat.