sexta-feira, 6 de setembro de 2013

crime de amor

Todo seu espaço estava sitiado. Já estava acostumada com sua existência vigiada e mal se lembrava da última vez em que respirou plenamente em paz. Mas dessa vez, era ainda pior: o cerco estava fechado. E a única certeza era que não havia brecha pra fuga ou fresta por onde entrasse o sol. A atmosfera era densa e o ar cada vez mais escasso. Sentia o par de olhos alheios sob seus ombros e tinha um peso indizível.

A meta era localizar qualquer indício de desvio. A estratégia era vigia, investigação e busca. Gavetas, estantes e colchões foram revirados. A palpitação vinha da incerteza de ter se lembrado de cobrir todos os rastros. Pernas trêmulas e mãos frias. Sentia que seu cenário, cuidadosamente montado, estava prestes a desmoronar.

Num caderno esquecido e insuspeito, morava a razão do seu rosto de confronto e culpa: uma carta de amor. A descoberta foi mais devastadora que qualquer prova de ligação terrorista. Promessas foram quebradas. Rancores e dívidas, desenterradas. O que era ácido veio à superfície. Amor, já não havia. Dali em diante, ela já não era mais a mesma. Nunca mais manteve sua escrita em segredo de novo. Estava escancarada.

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